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COVID-19 e coração: como o vírus o afeta?

A doença respiratória provocada pelo novo coronavírus deixa sequelas no sistema cardiovascular às quais é preciso estar atento.

Se, no início da pandemia, se pensava que o novo coronavírus atacava sobretudo os pulmões, depressa se percebeu que o coração também era afetado, como era visível nos doentes internados. Resultados preliminares de um estudo realizado no Hospital de São João, no Porto, mostram que um terço dos doentes com formas graves da COVID-q9 revelam alterações no funcionamento do coração, que, no estado agudo da doença, podem levar à morte. Já a longo prazo, as mesmas modificações podem aumentar o risco de doença cardíaca.

 

Uma outra investigação sobre esta matéria foi publicada no European Heart Journal, da European Society of Cardiology (ESC), e mostra que em mais de metade dos hospitalizados com covid-19 grave e com níveis elevados da proteína troponina no sangue – um indicador de inflamação no coração que muitos doentes na fase crítica desta doença respiratória apresentaram – surgem lesões no coração já depois da alta clínica.

 

Portanto, com o passar do tempo, são várias as evidências que demonstram que a COVID-19 deixa sequelas no coração mesmo após a cura. Quer em doentes que tiveram quadros graves da doença, quer naqueles que tiveram formas leves e moderadas, mesmo que não tivessem problemas de saúde preexistentes. Ainda recentemente veio a público que o jogador de futebol do clube inglês Wolverhampton Willy Boly, depois de ter sido dado como curado da doença, tem sentido o batimento cardíaco acelerado e um cansaço extremo que o impede de voltar a pisar os relvados.

COVID-19 e coração: vários tipos de lesões

Mário Oliveira, cardiologista no Hospital CUF Tejo e no Hospital CUF Porto, diz-nos que «a apresentação clínica do envolvimento cardiovascular da COVID-19 é variável, podendo incluir lesão cardíaca inflamatória (miocardite e/ou pericardite), quadro de enfarte do miocárdio (inflamatório e por espasmo das artérias), arritmias, insuficiência cardíaca e até fenómenos de tromboembolismo (coágulos que comprometem o funcionamento de órgãos, nomeadamente, com embolia pulmonar)».

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10 questões frequentes sobre insuficiência cardíaca

O processo inflamatório da COVID-19 pode «atingir diferentes órgãos, mas a verdade é que a fase mais grave da doença, quando se apresenta com uma situação de “tempestade inflamatória” sistémica, pode associar-se às várias manifestações cardíacas e vasculares agora conhecidas», explica o cardiologista. Na verdade, «a inflamação dos vasos (que por vezes compromete as placas de aterosclerose, levando a trombose) e o compromisso cardíaco são, além dos quadros respiratórios graves, as situações mais preocupantes nas complicações resultantes da COVID-19», realça Mário Oliveira.

 

Este tipo de situação «é mais grave e mais frequente em doentes com patologia crónica conhecida, como insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, diabetes ou obesidade», acrescenta o especialista em Cardiologia.

Quando há problemas prévios

Como vimos atrás, quem já tinha problemas cardiovasculares prévios à COVID-19 corre maior risco de ter estas sequelas. «É bem-sabido que o risco de hospitalização e complicações graves é maior em idosos, nos homens e na presença de patologias crónicas, com particular destaque para a doença isquémica cardíaca e a insuficiência cardíaca», confirma Mário Oliveira. Isto acontece porque os «recetores da enzima de conversão da angiotensina – que o vírus usa para entrar nas células – são muito abundantes nos pulmões, coração e vasos, pelo que, embora a inflamação seja sistémica, são estes os órgãos mais afetados. Claro que doentes crónicos do foro cardiovascular e respiratório são os mais vulneráveis para quadros clínicos mais graves. São por isso parte do grupo de risco para quem o processo de vacinação foi (e é) mais premente», esclarece o cardiologista.

E depois?

Posto isto, é importante que quem tenha tido COVID-19 seja seguido por um médico para detetar a possível existência de sequelas de várias ordens, entre as quais as cardiovasculares (ver caixa Sintomas a ter em conta). Mário Oliveira lembra que «tem sido relativamente comum encontrar casos que, após a infeção com COVID-19, passaram a referir um cansaço anormal. Nestas situações, tem sido frequente detetar alterações a nível pulmonar (num exame de tomografia computorizada – TAC). No entanto, pelo facto de a nível cardíaco existirem os tais recetores da enzima de conversão da angiotensina – a que o vírus se liga antes de entrar nas células – e devido à inflamação generalizada, pode haver compromisso cardíaco com alterações da função e arritmias». 

 

Se pratica uma atividade física e teve COVID-19, é recomendável também que antes de a retomar, consulte o seu médico assistente, mesmo que não apresente qualquer sintomatologia, apenas por uma questão de segurança. «Pode até sentir-se quase dentro da normalidade e ter alterações a nível do exame clínico que justifiquem uma avaliação laboratorial ou até com exames mais focados na função cardiorrespiratória», avisa o cardiologista.

 

Além das sequelas no coração de que falamos neste artigo, da dificuldade em respirar e do cansaço físico, são muitos aqueles que estiveram infetados com coronavírus a reportar efeitos neurológicos, tais como cefaleias, dificuldade em concentrar-se, problemas de memória, e dores musculares. Hans Kluge, diretor para a Europa da Organização Mundial da Saúde, já declarou que a covid longa deve ser uma prioridade para as autoridades médicas de cada país, e os investigadores de todo o mundo estão atentos a todas as consequências reportadas. Os sintomas pós-covid podem durar semanas, meses e até há já pessoas a apresentarem estas queixas há mais de um ano. Um estudo recente da Sociedad Española de Médicos Generales y de Familia revela que a covid de longa duração parece afetar mais as mulheres do que os homens.

 

Por fim, junte-se à comunidade Cardio 365º!

 

Referências
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