Os contracetivos e a saúde cardiovascular
Os métodos contracetivos são essenciais para se prevenir uma gravidez indesejada. Mas será que alguns destes métodos têm impacto na saúde cardiovascular? Neste artigo explicamos-lhe tudo.

Contracetivos são todos os métodos que utilizamos para impedir a conceção. Ou seja, quando bem utilizados, deverão impedir uma gravidez indesejada. Alguns dos métodos mais utilizados, contêm hormonas. Por isso, alguns dos seus efeitos secundários podem interferir na saúde cardiovascular.
A importância dos contracetivos
Os contracetivos são considerados um dos 10 avanços de saúde pública mais importantes do século XX. Os seus principais benefícios são:
- melhoria da saúde e bem-estar
- diminuição da mortalidade materna a nível global
- melhoria da saúde materna e infantil devido à possibilidade de espaçar gravidezes
- melhor inclusão das mulheres no mundo laboral
- autossuficiência financeira da mulher
Liberdade de decisão e saúde sexual
A possibilidade de prevenir uma gravidez não desejada trouxe às mulheres a possibilidade de um maior controlo do seu corpo, das suas decisões e da sua vida. Foi um passo fundamental para que as mulheres pudessem desfrutar de uma vida sexual saudável, sem risco de engravidar. Além disso, permitiu que muitas meninas e mulheres avançassem nos estudos, atingindo um maior nível de escolaridade. Acima de tudo, dotou as mulheres de um poder fundamental sobre si mesmas: a possibilidade de decidir se, quando e quantos filhos desejam ter.
No caso do preservativo, um método barreira, existe ainda um benefício insubstituível. A prevenção da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis como o HIV/ SIDA, o HPV (Papiloma Humano) ou a sífilis. Aliás, o preservativo é o único método contracetivo que impede este tipo de infeções. Mas como até à data não se conhecem dados que indiquem que o preservativo possa ter efeitos na saúde cardiovascular, este método não será objeto deste artigo.
Métodos contracetivos com possível efeito cardiovascular
Existem diversos métodos contracetivos:
- Barreira, como o preservativo e diafragma – são métodos físicos. Criam uma barreira que impede que esperma se encontre com o óvulo. Não influenciam processos biológicos, pelo que não têm efeitos na saúde cardiovascular.
- Naturais – implicam um conhecimento profundo do seu ciclo menstrual único por parte da mulher. Baseiam-se na avaliação dos dias férteis, evitando a prática sexual nesses dias. Também não afetam a saúde cardiovascular.
- Intrauterinos – o chamado «DIU» (Dispositivo Intrauterino). É colocado no interior do útero. Pode ser de cobre, um metal que causa a inflamação do útero e impede a entrada do espermatozoide, ao mesmo tempo que impede que o óvulo se fixe. Também pode ser hormonal, libertando progesterona. Esta opção impede igualmente a fixação do óvulo na parede do útero, espessa o muco cervical impedindo a entra do espermatozoide no útero e pode até impedir a ovulação.
- Hormonais – são métodos à base de hormonas que impedem a ovulação e provocam o espessamento do muco cervical, dificultando a entrada do espermatozoide no útero. Por conterem hormonas, que têm ação biológica, podem ter alguma influência na saúde cardiovascular.
Os contracetivos hormonais
Os métodos de contraceção hormonal incluem:
- Pílula oral combinada – contém estrogénio e progesterona, as hormonas sexuais femininas.
- Adesivo contracetivo – contém uma combinação de estrogénio e progesterona. É aplicado na pele.
- Pílula oral de progesterona – a chamada «mini-pílula». Contém apenas progesterona e é prescrita às mulheres que por diversos motivos não possam tomar estrogénios
- Anel vaginal – consiste num anel que se introduz na vagina e liberta estrogénio e progesterona.
- Implante – consiste num pequeno bastonete de plástico que é injetado debaixo da pele, libertando progesterona.
- Injeção contracetiva – consiste na injeção intramuscular de uma solução de progesterona.
Contracetivos hormonais e as doenças cardiovasculares
De uma forma geral, os contracetivos hormonais são eficazes na prevenção da gravidez e não deverão ter efeitos secundários graves em mulheres saudáveis. No entanto, algumas mulheres podem ter um risco aumentado de doença cardíaca, ataque cardíaco, acidente vascular cerebral (AVC) e formação de coágulos.
Isto deve-se ao facto de conterem hormonas: estrogénio e progesterona. Vários estudos têm demonstrado que estas hormonas, sobretudo, o estrogénio, estão associadas a um aumento do risco cardiovascular. Nomeadamente, à ocorrência de situações causadas por trombos (coágulos) que bloqueiam as artérias e veias e impedem a chegada do sangue ao seu destino. Por outro lado, os contracetivos hormonais estão relacionados com o aumento da tensão arterial (hipertensão) e pioram os efeitos negativos da obesidade, tabagismo e colesterol elevado sobre o risco cardiovascular.
Algumas pílulas contracetivas causam a diminuição do HDL, o «bom colesterol». Isto enquanto aumentam os triglicéridos e o LDL, ou «mau colesterol». Ou seja, criam condições para a acumulação de colesterol nos vasos sanguíneos. Isto pode levar ao bloqueio dos mesmos e a situações de ataques cardíacos e AVCs.
O estrogénio está altamente associado à formação de coágulos sanguíneos. Estes coágulos, tal como o colesterol, podem bloquear artérias e veias. Nestes casos, também podem acontecer acidentes cardiovasculares graves.
Quem tem maior risco?
- Mulheres com mais de 35 anos
- Quem tem hipertensão, diabetes ou colesterol elevado
- Mulheres com doença vascular periférica
- Fumadoras
- Quem tem história clínica de AVC, ataque cardíaco e formação de coágulos
- Pessoas que sofrem de enxaqueca com aura (enxaqueca associada a perda de visão, dormência dos membros)
Isto não significa que não se possam usar métodos de contraceção hormonal! Antes de mais, converse com o seu médico. Só ele poderá avaliar a sua história clínica e juntos, chegarão ao método que mais se adequa às suas necessidades.
Por exemplo, existem métodos hormonais com doses tão baixas que o risco cardiovascular é muito reduzido. Por outro lado, os estrogénios são normalmente os maiores causadores de problemas. Nesse caso, há opções que contêm apenas progesterona.
Se a sua saúde estiver bem e, sobretudo, se não for fumadora, os métodos hormonais não têm por que supor nenhuma espécie de risco acrescido. Além disso, assegure-se de consultar periodicamente o seu médico para ir vigiando quaisquer sinais e sintomas de aviso.
Contraceção de emergência
A «pílula do dia seguinte» não deve ser utilizada como método contracetivo. É um recurso de emergência a utilizar apenas em caso de relações sexuais desprotegidas, falha do método habitual ou, em casos mais graves, de caráter criminal.
No entanto, pode ser tomada por mulheres a quem seja contraindicada a pílula contracetiva, ou outro contacetivo combinado, porque não contém estrogénios. Além disso, pelo seu uso esporádico, não deverá ter efeitos ao nível da saúde cardiovascular.
Os contracetivos são um marco importante na saúde pública. A decisão sobre o método contracetivo mais adequado para cada mulher deverá sempre ser pensada em conjunto com o médico. Só este profissional poderá avaliar a história clínica individual e aconselhar em função desses dados. Na dúvida, ou enquanto espera por uma consulta, o preservativo continua a ser a melhor opção. Não só tem uma eficácia elevada na prevenção da gravidez, como protege das doenças sexualmente transmissíveis e não interfere com a saúde cardiovascular.
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