O que é a fibrilhação auricular?
Já ouviu falar de fibrilhação auricular? Pode parecer um nome pomposo e meio complicado, mas neste artigo explicamos-lhe de forma simples o que é exatamente esta doença do coração.

Antes de falarmos em fibrilhação auricular, comecemos por uma noção geral sobre o coração humano. Este órgão que alimenta o nosso corpo é um músculo muito especial. Está dividido em 4 câmaras (cavidades): 2 aurículas na parte superior, por onde o sangue entra no coração e 2 ventrículos na parte inferior, por onde o sangue sai do coração.
Como bom músculo que é, o coração tem fibrilhas. Ou seja, pequenos feixes compridos que formam o interior das fibras musculares (as células que formam os músculos). Quando essas fibrilhas se contraem e relaxam, os músculos movimentam-se. Quando essa contração e relaxamento é anormal e descoordenada, estamos na presença de uma fibrilhação. Neste artigo, falamos da fibrilhação auricular. Ou seja, de quando as células musculares cardíacas da zona das aurículas estão a funcionar fora de ritmo. Por isso, o coração bate «fora de tempo». É aquilo a que chamamos arritmia.
Entender a fibrilhação auricular
A fibrilhação auricular (ou fibrilação) é o tipo de arritmia mais frequente na população. Nela, o coração bate demasiado depressa e de forma irregular. Por isso, a zona do coração correspondente às aurículas deixa de bombear corretamente o sangue para a parte dos ventrículos.
Ora, se o sangue não é totalmente bombeado para fora das aurículas, uma parte acaba por ficar estagnada no seu interior, em particular numa zona da aurícula esquerda, o apêndice auricular esquerdo – sim, o coração também tem um apêndice! Isto pode então contribuir para a formação de coágulos. Esses coágulos por sua vez, podem libertar-se na corrente sanguínea e causar danos noutras partes do corpo, como o cérebro. Quando um coágulo chega às artérias cerebrais, interrompe o fornecimento de sangue ao cérebro e causa um acidente vascular cerebral (AVC).
Num batimento cardíaco normal, primeiro contraem-se as aurículas e depois, de forma coordenada, contraem-se os ventrículos. Esta coordenação bem orquestrada leva ao movimento fluido do sangue por todo o corpo. Na fibrilhação auricular, as aurículas deixam de «trabalhar em equipa» e passam a trabalhar «anarquicamente».
A fibrilhação auricular pode ocorrer de forma passageira (paroxística), isto é, uma vez por outra, ou tornar-se permanente.
Causas e fatores de risco da fibrilhação auricular
Os batimentos do coração são causados pelos impulsos elétricos gerados no nódulo sinoatrial. Esta zona do coração é o seu marca-passo (pacemaker) natural.
A causa base da fibrilhação auricular é a desorganização destes impulsos elétricos. O que faz com que as aurículas se contraiam demasiado depressa e fora de ritmo.
Esta desorganização dos impulsos elétricos é muitas vezes causada por outras doenças ou fatores que afetam o coração. No entanto, muitas vezes, os médicos não conseguem identificar a causa específica da fibrilhação auricular.
Os fatores de risco mais frequentes de causar fibrilhação auricular são:
- idade superior a 60 anos;
- história familiar (hereditariedade);
- outras doenças cardíacas (cardiopatias);
- doença nodo sinusal;
- ataque cardíaco (enfarte);
- hipertensão arterial (tensão alta);
- doenças pulmonares como DPOC ou enfisema;
- hipertiroidismo;
- obesidade e diabetes;
- apneia do sono;
- infeções virais que afetem o coração.
Também existem alguns fatores desencadeadores que podem causar episódios passageiros de fibrilhação auricular:
- consumo excessivo de álcool e/ ou drogas;
- consumo de estimulantes como cafeína ou tabaco, principalmente se não for habitual (a falta de hábito pode levar a um efeito mais acentuado);
- stresse e ansiedade.
- estados de infeção (febre)
- perturbações iónicas como a baixa do potássio hipocaliémia)
- medicação esteroide (para a asma, por exemplo);
Sintomas comuns de fibrilhação auricular
Frequentemente, os doentes não apresentam sintomas. Outros podem notar:
- palpitações;
- desconforto ou «aperto» no peito;
- pulsação demasiado rápida e/ ou irregular;
- falta de ar e dificuldade em respirar;
- tonturas;
- sensação de desmaio;
- cansaço e letargia;
- confusão.
Diagnóstico e tratamento
Só o médico poderá diagnosticar a fibrilhação auricular. Para isso, além da história do doente e dos fatores de risco associados, deverá realizar um exame chamado electrocardiograma (ECG).
Hoje em dia, há algumas aplicações em smartphones ou smartwatches que analisam o ritmo cardíaco e podem contribuir para o diagnóstico e monitorização desta arritmia. Contudo, essa informação deverá ser sempre avaliada e validada pelo médico assistente.
Como referido, uma das principais complicações da fibrilhação auricular é a elevada ocorrência de AVCs pela formação de coágulos. Assim, o médico irá avaliar o risco de um doente com fibrilação auricular vir a sofrer de um acidente embólico e na sequência iniciar medicação anticoagulante para minorar esse risco.
Para além da anticoagulação, os tratamentos mais frequentes passam pelo controlo do ritmo cardíaco. Este é feito através de medicação e/ ou intervenções médicas. Pode ser colocado um pacemaker, ser feita cardioversão por choque elétrico que restaura o ritmo normal do coração, ou mesmo ser realizada uma ablação por cateter. Esta última isola e/ou destrói as vias elétricas que estão a causar a arritmia.
Por outro lado, o tratamento da fibrilhação auricular deve sempre incluir, se possível o tratamento da causa ou do fator precipitante, com por exemplo o hipertiroidismo.
A fibrilhação auricular é a arritmia mais comum e das maiores causas de AVC na população. Com um seguimento adequado, é possível prevenir o AVC, controlar a frequência cardíaca, restaurar e manter o ritmo sinusal, melhorar os sintomas e prevenir a insuficiência cardíaca. Mas acima de tudo, aumentar a qualidade e prolongar a esperança de vida dos doentes.
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