Demência vascular, uma complicação cardiovascular
Já ouviu falar em demência vascular? Este é um termo complexo e ainda sem uma definição clara. Descubra mais!
A demência vascular é um termo vasto que inclui todas as demências associadas a problemas de circulação sanguínea no cérebro. Depois da doença de Alzheimer, esta é uma das causas mais comuns de demência. Além disso, estima-se que seja responsável por cerca de 15 a 20% de todos os casos na América do Norte e Europa. À semelhança da doença de Alzheimer, o número de novos casos de demência vascular está a aumentar, uma consequência do envelhecimento da população.
Definir demência vascular ainda é um desafio
O declínio cognitivo que se verifica em idades mais avançadas é causado por múltiplos fatores. Neste processo parecem ter um papel fundamental:
- Lesões vasculares consequentes da aterosclerose;
- (Micro)enfartes;
- Angiopatia amiloide (deposição de matéria amiloide nas paredes do vasos cerebrais que os fragiliza e conduz a hemorragias intracranianas);
- Outras lesões características de doenças neurodegenerativas.
A análise de imagens do cérebro de idosos que desenvolveram demência permitiu observar danos associados a uma variedade de doenças, relacionados com mais do que a doença cerebrovascular. No que se refere a lesões vasculares, existe uma grande variedade que contribui para o aparecimento de problemas cognitivos. De acordo com as alterações existentes no cérebro é possível identificar os seguintes subtipos de demência vascular:
Demência…
- … por multienfartes (demência vascular cortical)
- … dos pequenos vasos (demência vascular subcortical)
- … por enfarte estratégico (enfarte num local estratégico)
- … hemorrágica
- … vascular hereditária
- … doença de Alzheimer, associada a doença cardiovascular
A demência pós-acidente vascular cerebral (AVC) é abordada muitas vezes como um subtipo de demência, uma vez que os mecanismos que estão na sua origem são ainda difíceis de caracterizar e não se enquadram nos subtipos descritos.
Como seria expectável, a variedade de tipos de demência vascular faz com que as consequências de cada um no desempenho cognitivo sejam também variáveis.
Assim sendo, conclui-se que a demência vascular permanece um conceito pouco claro e pouco consensual. No entanto, reconhece-se que compromete uma grande heterogeneidade de apresentações clínicas.
Diagnosticar a demência vascular
A demência vascular é diagnosticada através de exames neurológicos e técnicas de imagiologia como a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética. Contudo, tal como no caso da doença de Alzheimer, um diagnóstico definitivo de demência apenas poderá ser feito após examinar o cérebro do indivíduo após a sua morte. A distinção da demência vascular de outras formas de doença é difícil e pode coexistir com a doença de Alzheimer.
Fatores de risco para demência vascular
O AVC permanece como o principal fator de risco para demência vascular, duplicando o seu risco. As características do AVC, principalmente a gravidade e localização, contribuem para uma grande variação do risco de demência. Embora superior logo após um AVC, o risco de demência pode estender-se por vários anos.
Os fatores de risco para doença pós-AVC incluem:
- Idade
- Sexo feminino
- Baixo nível de educação
- Fatores de risco vascular
- Localização do AVC
- Vários AVC
- Atrofia na região temporal
Curiosamente, os mesmos fatores de risco foram identificados na ausência de AVC, em especial em pessoas com idade avançada e na presença de risco vascular.
Assim, devido à importância da doença vascular no declínio cognitivo não é surpreendente que os fatores de risco para doença vascular estejam implicados no risco de demência, em particular os seguintes:
- Obesidade,
- Hiperglicemia,
- Hipertensão,
- Tabagismo,
- Resistência à insulina, síndrome metabólica e diabetes,
- Sedentarismo,
- Dieta pouco saudável,
- História clínica de doença cardiovascular.
Entre estes, a obesidade e hipertensão parecem ser particularmente importantes para a saúde do cérebro a partir da meia idade. Além disso, os fatores de risco cardiovasculares mais conhecidos são também fatores de risco para a doença de Alzheimer.
Além disso, a depressão no final de vida foi também identificada como um fator de risco para demência vascular em pessoas com idade avançada, tal como foi demonstrado para a doença de Alzheimer. Por outro lado, a depressão no final de vida está também relacionada com anomalias vasculares.
Progressão da demência vascular
A demência vascular tende a progridir de forma gradual. As capacidades cognitivas de uma pessoa deterioram-se após um AVC e estabilizam. Se for possível evitar a ocorrência de um outro AVC, o declínio cognitivo poderá não continuar. Além disso, em em alguns casos, até melhorar, pelo menos de forma temporária.
No entanto, a média, as pessoas com demência vascular têm uma progressão mais rápida do que as que apresentam doença de Alzheimer. A mortalidade é também, em comparação, superior.
Prevenção e controlo
Os princípios gerais de controlo da demência são aplicáveis também na demência vascular, como, por exemplo:
- Diagnóstico precoce
- Avaliação e tratamento de comorbilidades
- Apoio ao doente e cuidador
- Maximização da independência do doente
Infelizmente, a investigação de tratamentos eficazes tem sido desafiante. Os tratamentos mais bem estudados são uma classe usada vastamente no tratamento da doença de Alzheimer. Em alguns casos, pode ser necessária a prescrição de medicamentos aliviem a ansiedade ou depressão do doente ou que o ajudem a dormir melhor.
Uma vez que nenhum tratamento permite reverter os danos decorrentes de um AVC, prevenir a sua ocorrência é essencial para evitar a demência pós-AVC. Assim, o recurso a medicamentos que permitam controlar os fatores de risco para AVC, nomeadamente medicamentos para o controlo da pressão arterial, colesterol alto ou hiperglicemia, pode ser necessário.
Além disso, alterações no estilo de vida, como uma dieta saudável, praticar exercício físico, não fumar ou evitar o consumo de álcool são também importantes para reduzir o risco de sofrer um AVC. Por vezes, o tratamento com fármacos que previnam a formação de trombos nos vasos de menor calibre pode ser também recomendado.
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