A apneia do sono e a saúde do coração
Como já sabemos, a qualidade do sono tem implicações para a saúde e, em particular, para a saúde cardiovascular. Hoje, o tema é um distúrbio em particular: a apneia do sono.

Certos distúrbios do sono são, em suma, doenças que se caracterizam por uma respiração anormal durante o sono. Problemas esses, muitas vezes associados ao estreitamento ou obstrução das vias respiratórias. E, entre elas, está a apneia do sono.
A apneia do sono em números
- A apneia do sono é uma doença comum, subdiagnosticada e que pode ser tratada de forma eficaz recorrendo a ventilação por Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas (CPAP);
- Nos países desenvolvidos, estima-se que afete 3 – 7 % dos homens de meia-idade e 2 – 5 % das mulheres;
- Pessoas com apneia do sono não tratada têm um risco entre 1,2 – 2 vezes superior de sofrer um acidente rodoviário;
- Entre 60 a 90 % das pessoas com o problema têm obesidade moderada a grave;
- O tabagismo e o álcool estão associados a uma maior prevalência desta doença.
Conhecer as causas
A apneia no sono acontece quando, durante alguns segundos, a respiração pode ser interrompida e o fornecimento de oxigénio comprometido. Como consequência, o cérebro desperta, as vias aéreas são reabertas e a respiração normal é retomada. Este ciclo repete-se ao longo da noite. Desta forma, as pessoas têm um sono inadequado.
Sinais de alerta que deve conhecer
Em primeiro lugar há os sintomas noturnos, como o «ressonar» alto, paragens abruptas da respiração ou uma respiração ofegante durante o sono, observadas por outras pessoas enquanto dorme. Por outro lado, as pessoas que sofrem de apneia do sono têm também sintomas diurnos.
Em geral, os sintomas semelhantes aos de quaisquer outros distúrbios do sono, contando-se:
- Pausas na respiração durante o sono;
- Acordar com a sensação de engasgamento ou sufoco;
- Acordar com a boca seca;
- Dores de cabeça durante a manhã;
- Cansaço, perda de memória ligeira, dificuldades de concentração;
- Dificuldade em adormecer ou sonolência excessiva durante o dia;
- Irritabilidade;
- Outros sintomas como incontinência, suores ou redução da libido e impotência.

O seu médico de família poderá avaliar os sintomas, mas terá provavelmente de ser encaminhado para um especialista em sono. Para que um diagnóstico possa ser efetuado e a gravidade seja determinada, deverão ser feitos exames como, por exemplo, o registo poligráfico do sono noturno (o mesmo que polissonografia). Neste exame, regista-se a atividade do coração, pulmão e cérebro, e outros movimentos, durante o sono.
Quem deve ser avaliado
De acordo com a American Academy of Sleep Medicine (AASM), pessoas com as seguintes características devem ser avaliadas:
- Obesidade
- Insuficiência cardíaca congestiva
- Fibrilhação auricular
- Tratamento da pressão arterial alta que não é eficaz;
- Diabetes tipo 2
- Alterações do ritmo cardíaco durante a noite
- Acidente vascular cerebral (AVC)
- Hipertensão pulmonar alta
- Pessoas com condução de alto risco
- Preparação para cirurgia bariátrica
Consequências cardiovasculares da apneia do sono
Diversos estudos demonstraram que a apneia do sono grave conduz a um aumento em 3 vezes do risco de morte por todas as causas. Este distúrbio tem sido associado de forma independente a:
- valores de pressão arterial alta
- acidente vascular cerebral (AVC)
- isquemia do miocárdio
- ritmo cardíaco alterado (arritmias) que conduz a morte
- eventos cardiovasculares não fatais
A explicação
O ritmo cardíaco é em geral mais lento durante o sono. Durante o sono REM, o ritmo cardíaco é mais variável e podem ocorrer aumentos na pressão arterial sistólica até 40 mmHg. No sono não REM, a pressão arterial sistólica (a «máxima») é 5 — 15 % mais baixa, em particular na fase em que o sono é mais profundo. Se esta redução da pressão arterial sistólica não ocorrer, porque o sono é interrompido pela apneia do sono, pode ser ativada uma resposta biológica associada situações de stresse agudo. E as consequências são, por exemplo, a libertação das hormonas norepinefrina e cortisol, libertação de glucose, aumento do ritmo cardíaco e da pressão arterial. Alguns indivíduos têm mesmo valores de pressão arterial superiores aos registados durante o dia, em especial idosos, fumadores ou pessoas com valores de glicemia em jejum elevados.
Se passamos mais de 1/3 das nossas vidas a dormir, estes aumentos da pressão arterial podem ter consequências ao nível cardíaco e cerebrovascular. Assim sendo, por cada redução de 5 mmHg na pressão arterial sistólica durante o sono, verifica-se uma redução de 17 % do risco cardiovascular. Por outro lado, um ritmo cardíaco constantemente superior a 85 batimentos/minuto durante o sono é um fator de risco para morte súbita em homens de meia-idade. Foi também demonstrado que doentes com apneia do sono têm um ritmo cardíaco noturno médio alto e uma proporção de sono profundo inferior às pessoas que não sofrem da doença.
Além disso, episódios frequentes de oxigenação estão associados a danos nos vasos sanguíneos que aceleram a aterosclerose. Os distúrbios do sono estão igualmente associados a arritmias, alterações na coagulação, bem a um conjunto de fatores de risco cardiovasculares que no seu conjunto definem a «síndrome metabólica».
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