O peso do tabagismo no risco cardiovascular
Apesar de não estar esclarecido por completo a forma como o tabaco afeta a saúde cardiovascular, os seus efeitos nefastos estão bem documentados.
Estima-se que a exposição ao fumo do tabaco mate a cada ano cerca de 600.000 pessoas em todo o mundo, das quais 87% se devem a doenças cardiovasculares. Por outro lado, o tabagismo é uma das principais causas de morte prematura por doença cardiovascular. Contudo, em idades mais jovens, estes números são ainda mais relevantes: 1/3 de todas as causas de morte por doença cardiovascular em jovens adultos (com <45 anos de idade) devem-se ao tabagismo.
Os fumadores não são, no entanto, os únicos afetados. A exposição ao fumo do tabaco constitui também um risco importante para não fumadores, em especial crianças. Em não fumadores, a exposição ao fumo passivo aumenta substancialmente o risco de doença cardiovascular. Nesta população, regista-se um aumento da gravidade dos enfartes do miocárdio 25 – 30% e do risco de acidente vascular cerebral (AVC) 20 – 30%.
Fumar muito ou pouco? O risco é sempre alto
Se é verdade que o risco cardiovascular atribuído ao tabaco aumenta com o nível de exposição e com o número de anos que o indivíduo fumou, a relação dose-resposta entre a quantidade de tabaco fumada por dia e risco cardiovascular não é linear. Sabe-se que apenas 1 cigarro por dia corresponde a 50% do risco de desenvolver doença arterial coronária e AVC em alguém que fume 20 cigarros por dia.
Em fumadores passivos, o risco aumenta de forma mais significativa com a exposição, mesmo a níveis reduzidos, como no caso dos indivíduos que fumam passivamente. Não existe um nível seguro de exposição, ou seja, um nível abaixo do qual não existam riscos para a saúde. Em contraste, a menor exposição ao fumo passivo reduz rapidamente esse mesmo risco.
Mas o que torna o tabagismo tão nocivo para o sistema cardiovascular?
Foram identificadas no fumo do tabaco cerca de 5000 substâncias químicas diferentes, centenas das quais são nocivas para a sua saúde ao interferirem no sistema reprodutivo, causarem complicações na gravidez e à nascença, danos no DNA e, claro, a nível cardiovascular, sendo estes últimos imediatos. Entre os componentes mais nocivos encontram-se, por exemplo, a nicotina, o alcatrão, o monóxido de carbono, o arsénio, compostos radioativos (polónio-210 e carbono 14) ou metais pesados (cádmio, chumbo).
O fumo do tabaco pode ser dividido em 2 fases:
- uma fase particulada (alcatrão), que fica quase na sua totalidade retida no filtro;
- e por uma fase gasosa, constituída pelo material que passa o filtro.
O fumo que fica na cavidade bucal do fumador é constituído por 8% de alcatrão e 92% por gases. Já o fumo que resulta do fumo emitido pela ponta do cigarro a arder contém uma concentração relativamente alta de gases tóxicos que o fumo inalado.
A constituição das 2 fases
A fase particulada contém, entre outros químicos:
- Nicotina, uma molécula altamente viciante que está associada a um aumento da pressão sanguínea, aumento da frequência cardíaca e contratilidade do músculo cardíaco, assim como estreitamento das artérias e aumento da rigidez das paredes dos vasos sanguíneos;
- Alcatrão, um resíduo que se acumula nos pulmões, mas também nos dentes e unhas, que causa danos nos vasos sanguíneos, altera o perfil lipídico (reduz os níveis de colesterol das lipoproteínas de baixa densidade, HDL) e que contribui para a formação de coágulos sanguíneos.
A fase gasosa formada principalmente por monóxido de carbono, um gás altamente tóxico que está associado aos seguintes efeitos:
- Redução da capacidade dos glóbulos vermelhos em transportar oxigénio, uma vez alcançando a corrente sanguínea, diminuindo a sua disponibilidade para o tecido muscular cardíaco, bem como para outros tecidos.
- Aumento da deposição de colesterol nas paredes internas das artérias, o que a longo prazo pode tornar estes vasos mais rígidos, promovendo o desenvolvimento de doença cardiovascular.
A deposição dos componentes da fase particuladas e da fase gasosa no pulmão ativa uma reposta inflamatória consequente do stresse oxidativo provocado pelos chamados radicais livres (átomos ou moléculas altamente reativas) presentes nos componentes do fumo do tabaco. Assim, em associação com fatores genéticos e outros fatores de risco cardiovascular, incluindo resistência à insulina, juntamente com os efeitos anteriormente descritos da nicotina e monóxido de carbono, iniciam o desenvolvimento de um conjunto de alterações que desencadeiam a aterosclerose e a sua progressão.
Desta forma, o fumo do tabaco predispõe o fumador ativo e passivo a diferentes tipos de síndromes relacionadas com a aterosclerose (estreitamento das artérias):
- Doença coronária isquémica (angina de peito);
- Síndromes coronárias agudas;
- Doença cerebrovascular (AVC acidente, isquémico transitório);
- Doença arterial periférica;
- Aneurisma aórtico abdominal;
- Morte súbita.
Informe-se sobre como abandonar os seus hábitos tabágicos
O melhor que um fumador pode fazer pela saúde do seu coração é abandonar os seus hábitos tabágicos. Antigos fumadores registam melhorias na sua saúde cardíaca e uma redução do risco cardiovascular imediata. Após 1 ano, o risco de enfarte do miocárdio diminui de forma drástica, e mesmo pessoas que sofreram no passado um enfarte podem reduzir o risco de vir a sofrer um segundo se desistirem fumar. Nos 5 anos seguintes a desistir de fumar, o risco de AVC passa a ser igual ao de uma pessoa que nunca fumou.
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