Exercício e dislipidemia: mexa-se pela sua saúde!
O apelo não é em vão. Afinal, exercício e dieta têm um papel importante no combate da dislipidemia, das principais causas de risco cardiovascular. Um bom ponto de partida para explorarmos melhor esta relação.
Os investigadores têm procurado encontrar uma explicação científica sobre a relação do exercício físico com a dislipidemia. E, ainda que não tenham encontrado uma explicação absoluta para a questão, há um consenso alargado sobre esta relação: o exercício ajuda a reverter níveis de colesterol que contribuem para a dislipidemia.
Esta recente ideia, tem sido um ponto importante para as abordagens não-farmacológicas no controlo da doença em várias idades e com resultados muito interessantes.
Dislipidemia? Como disse?
Comecemos por um termo de nome complicado, mas, não tão difícil de explicar: a dislipidemia. Por ser um dos mais importantes fatores de risco da doença cardiovascular, importa começar por fazer a pergunta. Afinal, o que é dislipidemia? Colesterol elevado?
Dislipidemia é um termo usado para designar todas as anomalias quantitativas ou qualitativas dos lípidos (gorduras) no sangue. Um destes lípidos, o colesterol, pode gerar um quadro de dislipidemia quando os seus valores estão descontrolados. Assim, é necessário um esforço para manter o colesterol LDL (o «mau» colesterol) o mais baixo possível e o colesterol HDL (o «bom») em níveis elevados. O exercício físico (com dieta equilibrada) tem um papel muito importante para evitar ou reverter a dislipidemia.
Como pode o exercício ajudar
O exercício físico, aliado a uma dieta equilibrada, consegue ajudar na redução da gordura corporal e do peso, assim como no controlo dos níveis de colesterol. No entanto, o papel do exercício, isoladamente, bem como a sua relação com a dieta ainda está a ser estudado, pelo que não é possível estabelecer uma correlação com certeza.
Nesse sentido, estudos mais recentes parecem trazer novas luzes sobre a relação exercício-dislipidemia. E conseguem identificar 2 mecanismos principais pelo qual a relação se dá:
- Primeiro, o exercício estimula enzimas que ajudam a retirar o colesterol LDL da corrente sanguínea e a transportá-lo para o fígado (onde é transformado ou eliminado).
- Segundo, o exercício aumenta o tamanho das proteínas que transportam o colesterol em circulação. Isto é positivo, porque estas partículas maiores não conseguem alojar-se tão facilmente nos vasos sanguíneos (não contribuindo para fenómenos como a aterosclerose, por exemplo).
Além de tudo isto, o exercício irá fomentar de sobremaneira a redução de outros fatores de risco para doenças que se relacionam geralmente com os doentes que têm dislipidemia, a saber: a diabetes, a hipertensão arterial ou o acidente vascular cerebral (AVC).
O caso particular do c-HDL
Embora a prática de exercício físico seja uma recomendação transversal aos vários tipos de dislipidemia, esta assume relevância nos doentes com valores reduzidos de c-HDL (ou colesterol HDL).
Como já mencionámos, há ainda necessidade de mais estudos que relacionem o efeito do exercício no c-HDL e nos níveis de colesterol em geral. Apesar disso, há estudos que indicam que o exercício tem efeito no aumento de c-HDL e melhoria da sua função. Função esta de transportar o colesterol para o fígado, onde é degradado e eliminado. Assim, mais c-HDL em circulação significa também que mais colesterol está a ser transportado dessa forma e, portanto, a ser retirado de circulação.
Os estudos também mostram que os efeitos do exercício no aumento do c-HDL dependem de fatores como o tempo de exercício, a sua intensidade e a própria pessoa que exercita mas que o aumento da prática prolongada e vigorosa de exercício está diretamente relacionado com os valores deste tipo de colesterol em circulação.
Além do mais, os efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios da lipoproteína HDL também apresentaram melhorias em alguns estudos, o que pode trazer ainda outros benefícios importantes.
Escolher exercícios que ajudam na dislipidemia
Recomenda-se a realização de cerca de 30 minutos de exercício físico aeróbio diário (por exemplo, natação, caminhada, corrida leve, ciclismo, etc.). Está estimado que, por exemplo, uma atividade física que corresponda ao gasto de 1500 a 2200 kcal/semana (por exemplo, 45 minutos de natação, 4 vezes por semana) permite aumentos entre os 3,1 e 6 mg/dL no valor do c-HDL (cujo objetivo é que se mantenha pelo menos acima dos 40 mg/dL)!
Importante: se não está habituado a exercitar-se regularmente deve começar devagar. Consulte o seu médico para que ele possa definir consigo um plano apropriado à sua idade e perfil cardiovascular.
Depois, siga estes conselhos:
- Ainda que estejamos a falar de exercício moderado, o tempo que deve passar a fazê-lo deve ser significativo. Os 30 minutos resultarão, mas para alguém que está mesmo a tentar perder peso o tempo já terá de ser mais próximo dos 60 minutos/dia.
- Escolha uma atividade física de que goste. E companhia para a realizar. Isso tornará o ato em si mais agradável e o nível de motivação para o fazer muito maior.
- Alterne entre atividades favoritas. A rotina pode ser monótona. Além disso, diferentes tipos de exercício ajudam a trabalhar músculos diversos e são desculpas ideais para praticar exercício em diferentes tipos de ambiente.
Por fim, junte-se à comunidade Cardio 365º!
Associação Portuguesa de Nutrição (APN). Dislipidemias: caracterização e tratamento nutricional
Ruiz-Ramie JJ, et al.. Effects of exercise on HDL functionality